Chá das 3 – investigação, criação e memórias (2015)
A descrição teórica e prática de um processo de criação teatral colaborativa que não chegou à cena.
A publicação do livro foi patrocinada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro através da Secretaria Municipal de Cultura por meio do Segundo Programa de Fomento à Cultura Carioca.
Este é o exercício: não resistir, entregar-se às espirais de si mesmo e do acaso.
Helena Varvaki
Um trânsito por intensidades, forças e subjetividades traduzidas em sensações.
Mônnica Emilio
Estar entre, nesse lugar que ao mesmo tempo não é mais e não se tornou ainda.
Ana Achcar
É preciso mentir: uma, duas, três, várias vezes. Sem a mentira, a humanidade não teria saído das cavernas.
Manoel Prazeres
Desfuncionalizar o teatro – não foi isso que acabamos por fazer?
Filomena Chiaradia
E caberá ao ator se interessar por este mundo inusitado para a felicidade da criação – ou não, para a felicidade das formas consagradas.
Vitor Lemos
É somente como ato de criação, sempre em atualização, que nos relacionamos com o passado.
Camila Moreira
Hoje arte é ready-made. Já tá tudo pronto, é só emoldurar. Ganha o melhor moldureiro. (Beatriz)
João Avelino
Ficha técnica
Copyright © 2015 LMPR Serviços Tecnológicos e Culturais Ltda.
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Rio de Janeiro / RJ
Atrizes: Helena Varvaki, Mônnica Emilio, Ana Achcar
Direção: Manoel Prazeres
Pesquisadora: Filomena Chiaradia
Provocador: Vitor Lemos
Dramaturgos: Camila Moreira e João Avelino
Administração do projeto: Rosa Ladeira
Realização: Helena Varvaki – LMPR Serviços Tecnológicos e Culturais Ltda.
Coordenação editorial: Manoel Prazeres e Filomena Chiaradia
Projeto gráfico e fotografias: Flavio Luiz Pereira
Revisão de texto: Maria Helena Torres e Juliana Moura
Parceria editorial: Bernardo Costa (Livros Ilimitados) e Rick Yates (Another Hot Brand
with an American Name)
Apresentação
Chá das 3: investigação, criação e memórias resulta de um longo processo de indagações sobre a atuação que tem seu início em março de 2010. Compreendendo que a formação de um ator não se esgota no tempo em que ele frequenta uma escola para atores e, simultaneamente, percebendo que na sequência de trabalhos que realiza muitas vezes o ator é solicitado a repetir um pouco mais do mesmo, iniciamos, eu, Mônnica Emilio e Ana Achcar, uma rotina de encontros para investigar procedimentos de atuação. Após dois anos de trabalho ingressaram no processo outros artistas: Manoel Prazeres – diretor -, Filomena Chiaradia – pesquisadora -, Vitor Lemos – provocador – e dois dramaturgos, Camila Moreira e João Avelino.
A premissa foi problematizar e investigar nossos caminhos na atuação em um ambiente protegido das tensões de estreia e demandas de produção. Um lugar no qual as pressões seriam relativas à criação e em que estivéssemos livres para jogar e arriscar. Por meio de improvisações, jogos e reflexões seguimos trabalhando durante cinco anos, dando origem ao que segue neste livro: os textos dramatúrgicos de Camila Moreira e João Avelino, reflexões sobre a criação em forma de cartas aos autores, de Manoel Prazeres, ensaios de Filomena Chiaradia e Vitor Lemos, e uma escrita criativa em que eu, Mônnica e Ana buscamos elaborar o processo vivido e simultaneamente refletir sobre a atuação.
Dessa forma, pensamos poder contribuir de maneira teórica e prática para o investimento em processos colaborativos que têm marcado o teatro carioca nos últimos anos.
Duas perguntas nos acompanharam e continuarão acompanhando:
1) As possibilidades de investigação sobre procedimentos de atuação estão apartadas da velocidade e imposições de produção para um ator inserido no mercado de trabalho? De quantos e quais mercados de trabalho pode falar um ator, no Rio de Janeiro, hoje? A pesquisa, numa primeira impressão, está associada ao espaço da academia e dos pesquisadores. Em nossa cidade, entretanto, é crescente o número de coletivos de teatro e processos colaborativos que criam e levam ao público espetáculos oriundos dessa linhagem de trabalho. Interessadas nos caminhos de formação continuada, nos perguntamos: quais os caminhos possíveis para o ator interessado em inventar e investigar hoje no Rio de Janeiro?
2) Na ficção construída, as personagens Nina, Beatriz e Alice, amigas há mais de 20 anos, lutam por descobrir as possibilidades de continuidade/transformação de uma amizade que faz suas vidas terem sentido para além das demandas da realização profissional, da família e das relações amorosas. Qual o lugar da amizade nas nossas vidas, hoje? De quanto tempo dispomos para um telefonema desinteressado, um café para pensar na vida acompanhado por um outro? Será que ainda sabemos abrir os ouvidos e escutar um amigo desabafar sobre seus assombramentos perante a vida durante 20 minutos ou essa possibilidade ficou relegada aos anos da nossa juventude? As relações de coleguismo no trabalho ocuparam esse lugar, e temos “amigos de infância”, cuja amizade dura o tempo de um projeto, o tempo de uma viagem a trabalho, o tempo em que compartilhamos a intimidade de um camarim. Depois disso a amizade parece se resumir a mensagens “apaixonadas” nas páginas das redes sociais – “sinto sua falta”, “muitas saudades”, “me liga”, “penso tanto em você”. Muitas falas, poucas ações, pouco compartilhamento do dia a dia e muito pouco tempo para fazer “nada”.
Nina, Beatriz e Alice, três mulheres, entre 40 e 50 anos, amigas há mais de 20 anos, viveram uma experiência traumática na relação e lutam por descobrir as possibilidades de continuidade dessa amizade. Helena, Mônnica e Ana, três atrizes há bem mais de 15 anos que lutam por manter viva a investigação dos processos de criação e produção num tempo marcado por projetos de curto prazo e encontros profissionais provisórios.
Não temos tempo, e a amizade parece sempre poder esperar. Será? A impermanência, inerente à vida, não precisa estar acompanhada de amizades provisórias, de projetos rápidos. E, possivelmente, para suportar a dor da impermanência precisamos lutar por amizades mais consistentes. Nunca saberemos se vamos conseguir, até porque talvez não seja isso que tenha maior relevância e sim o que a luta faz conosco enquanto lutamos.
Helena Varvaki
Rio de Janeiro, setembro de 2015
Currículo dos autores
Helena Varvaki
é atriz e professora. Formada pela Escola P. Katselis, em Atenas, especialista em arte e filosofia pela PUC-Rio e mestre em teatro pela UNIRIO. É professora da UCAM. Entre seus trabalhos como atriz estão: Querida Helena Sergueievna, direção Isaac Bernat, A Fruta e a Casca, direção Manoel Prazeres, A Arte de Ter Razão, direção Vitor Lemos.
Mônnica Emilio
é atriz, bailarina e professora. Especialista em docência do ensino superior e bacharel em teatro pelo Centro Universitário da Cidade (RJ). Formada pela Escola de Danças Maria Olenewa (RJ), seguiu seus estudos de dança em Nova York – EUA. Leciona nos cursos de teatro da Universidade Candido Mendes e da CAL (Casa das Artes e Laranjeiras) – RJ.
Ana Achcar
é professora, pesquisadora, diretora e atriz de teatro. Formada pela UNIRIO, seguiu estudos de máscara e palhaçaria na França. Doutora em teatro, é professora na graduação e pós-graduação em Artes Cênicas da UNIRIO. Coordena o programa de palhaços em hospitais, Enfermaria do Riso, e tem diversas publicações em revistas e livros nacionais e estrangeiros.
Manoel Prazeres
é autor e diretor teatral. Cursou Artes Cênicas na UNIRIO e Roteiro Cinematográfico na Escola Darcy Ribeiro. Principais trabalhos: como diretor, Via Crucis do Corpo, de Clarice Lispector; como autor, Uma Interdição Habita em Mim, direção de Helena Varvaki, e A Arte de Ter Razão, direção de Vitor Lemos; como autor e diretor, A Fruta e a Casca e Caio Assassinado.
Filomena Chiaradia
é atriz, pesquisadora e doutora em artes cênicas (UNIRIO). Tem dois livros publicados: Iconografia teatral (Funarte, 2011) e A Companhia do Teatro São José (Hucitec, 2012) além de artigos em livros e periódicos brasileiros e portugueses. Pesquisadora da Funarte por mais de 20 anos, atualmente ocupa o cargo de gerente de edições dessa instituição.
Vitor Lemos
é diretor, professor e coordenador do Curso de Teatro da Universidade Candido Mendes. É mestre em teatro pela UNIRIO e doutorando em Letras pela PUC-Rio. Últimos trabalhos: As Moças, de Isabel Câmara; O Futuro por Metade, a partir de conferência de Mia Couto; e A Arte de Ter Razão, de Manoel Prazeres.
Camila Moreira
é autora, atriz e jornalista. Formada em Artes Dramáticas pela UniverCidade-RJ e em Comunicação Social pela PUC-Rio, cursou cinema experimental e teatro na Austrália. Últimos trabalhos: atriz e autora de Caio Assassinado, direção de Manoel Prazeres; foi editora de conteúdo da TV Globo/Gshow e colabora para o Centro de Memória da Academia Brasileira de Letras.
João Avelino
é carioca, torcedor do Fluminense, ex-redator publicitário, deu aula na Darcy Ribeiro, foi assessor artístico na Multirio, roteirista de cinema (Malu de Bicicleta, Muita Calma Nessa Hora etc.) e TV (diversos seriados na Globo e colaborador na novela Boogie Oogie), pai de Alice e Elena e governado pela mãe delas, a Anna.
Flavio Luiz Pereira
é designer, músico e fotógrafo. Trabalha no Departamento Nacional do Sesc como designer. Bacharel em design de produto pelo Centro Universitário da Cidade. Principais projetos: Teatro: Helena Sergeivna, O Futuro por metade, A fruta e a casca e A arte de ter razão. Dança: Jogo de damas e Tempo do Meio. Toca contrabaixo na banda MEB – Música Extemporânea Brasileira.